Depois de Gaby Amarantos, Gang do Eletro conquista espaços mainstream e público descolado
O grupo paraense Gang do Eletro; abaixo, a primeira estrela do tecnobrega, Gaby Amarantos
Uma
olhada na agenda da Gang do Eletro resume a fase atual do tecnobrega.
Em um mês, o grupo paraense liderado por Waldo Squash foi de
apresentações no descolado festival South by Southwest, nos Estados
Unidos, ao "Show da Xuxa", na TV Globo. Trata-se de um retrato da
presença do gênero em cenas díspares: ao mesmo tempo em que chegou ao
mainstream brasileiro nos últimos anos, com a ascensão da diva das
aparelhagens Gaby Amarantos, se tornou produto de exportação
vanguardista.
Críticos internacionais perguntam o que há de novo
no Brasil, uma década depois que o funk carioca dominou pistas
estrangeiras e foi absorvido por produtores renomados, como Diplo. A
resposta mais simples é o tecnobrega.
A Gang do Eletro acaba de
lançar seu primeiro álbum oficial, disponível pelo Soundcloud, e o
interesse que o grupo desperta na Europa, com DJ sets em festivais de
música eletrônica e, mais recentemente, um remix comissionado pelos Pet
Shop Boys (para o single "Memory of the Future", lançado este ano), o
grupo mostra-se apto a protagonizar uma exportação. "A mesma coisa que
aconteceu nos anos 2000 com o funk está acontecendo agora com o
tecnobrega", afirma Waldo Squash, também produtor do grupo, por
telefone, a caminho do Projac. "Todo tipo de música de gueto sofre
preconceito antes de ser aceita. O tecnobrega não está fora deste
enquadramento. Passa pela mesma coisa que passou o samba, antigamente, e
que passou o funk, nos anos 1990", explica
A narrativa anda em
conjunção com outros gêneros de música eletrônica de periferia, que se
encaixam em um diálogo global de guettotech, que teve ascensão na última
década. Entre eles, a cumbia argentina, o kuduro angolano, o footwork
de Chicago e o reggaeton dominicano. Definidos pela estética de
guerrilha, são gêneros feitos com softwares pirateados na internet e
mixagens caseiras, formam um encontro de música e sociologia atraente
para escritores estrangeiros e interessados em cultura.
Waldo,
entretanto, buscou lapidar o verniz de seu tecnobrega, e torná-lo mais
competitivo. "É o que fizemos no novo disco. Ao longo dos anos,
acumulamos muitas músicas jogadas na internet para fãs das aparelhagens.
Pegamos as melhores, enriquecemos as bases, multiplicamos as letras",
conta. As faixas de Gang do Eletro passam por hits da banda, como
"Galera da Laje" e "Só No Charminho". Nota-se um aprimoramento na
produção, o que, de acordo com Waldo é reflexo do sucesso, pois
antigamente não tinha dinheiro para comprar softwares de boa qualidade.
Mesmo assim, a jocosidade despretensiosa das batidas do tecnobrega, sua
principal arma, é preservada. As influências mais óbvias vêm de palcos
internacionais, com sintetizadores de trance e outros macetes da EDM, a
popularesca música eletrônica que atualmente protagoniza o pop
internacional.
Dubstep
"Estou
tentando encontrar uma maneira de inserir o dubstep nas coisas que
fazemos", conta Waldo, referindo-se ao subgênero de EDM, cujos graves
agressivos estão em voga com a garotada (vide a música de Skrillex).
"Mas não deu certo ainda", completa.
O comentário diz muito sobre
a essência antropofágica dos gêneros de guettotech, vorazes
aglutinadores de influências. "Eu não crio nada", diz Waldo. "Procuro
inserir aquilo que ouço no som que crio até que vire uma coisa nova. Em
Belém há muitos produtores criativos. Vou escutando, vou trocando, vou
tirando", completa o produtor.
Diva
Depois
de a cantora Gaby Amarantos emplacar "Ex Mai Love", na abertura da
novela "Cheias de Charme", no ano passado, se consolidou o crossover do
tecnobrega, de fenômeno local a música nacional. Gaby há tempos era
conhecida como diva das aparelhagens de Belém. Seu primeiro disco, assim
como as cruas origens do gênero, data do início da década passada,
quando híbridos de eletrônico com carimbó, calipso e guitarradas
fundiram-se nos bailes pobres de Belém (uma exposição sobre a gênese do
estilo foi montada este ano pela Universidade Federal do Paraná). O
tecnobrega pipocou em 2010, em círculos descolados. Em 2012, com o disco
"Treme", Gaby foi indicada para o Grammy Latino, e venceu premiações da
MTV e do Multishow. Foi a barreira rompida para que o cenário nacional
prestasse atenção nos guetos do Pará.
Fonte:Diário do Nordeste
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