Dos 389 leitos conveniados ao SUS e cadastrados na Crrifor, 364 funcionam. Os demais estão parados
As unidades neonatais são as únicas em número suficiente Foto: Alex Costa
Apontada
como prioridade pelos gestores públicos, a área da saúde continua na
emergência. Em Fortaleza, a espera por um leito nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) é longa e angustiante, podendo chegar até a dez dias.
Não só em razão de ser a demanda maior do que a oferta - 73 pessoas
estavam na fila na última sexta-feira.
A diferença entre os
leitos contabilizados como existentes e os que estão de fato disponíveis
para a Central de Referência de Regulação das Internações de Fortaleza
(Crrifor) indica um cenário preocupante: dos 389 leitos conveniados ao
Sistema Único de Saúde (SUS) e cadastrados na Central, 364 estão em
funcionamento, sendo 203 de adultos, 96 neonatais e 65 infantis. As
demais 25 unidades estão paradas. Somente o Hospital Geral de Fortaleza
(HGF) fechou dez vagas na UTI no ano passado.
A constatação do
problema chama atenção do Ministério Público Estadual (MPE). A titular
da Promotoria de Justiça em Defesa da Saúde Pública, Isabel Porto,
adianta que irá questionar as secretarias de Saúde do Estado (Sesa) e
Município (SMS) sobre a paralisação dos leitos de UTI.
A Sesa
explica que é preciso somar mais 233 leitos dos hospitais privados,
mesmo que estes não estejam contratados ao SUS. A Prefeitura, gestora do
SUS na Capital, afirma que só trabalha com as unidades conveniadas ao
sistema. "É preciso saber as razões da diferença", afirma a promotora.
Gerência
Para
os presidentes do Sindicato dos Médicos do Ceará, José Maria Ponte, e
da Sociedade Cearense de Terapia Intensiva (Soceti), Joel Isidoro Costa,
a questão não passa somente na criação de mais leitos e sim no
gerenciamento dos mesmos. "Não adianta apenas criar unidades de terapia
intensiva no Estado se não temos profissionais capacitados na área
específica para atender os pacientes", afirmam.
A situação,
aponta Joel Isidoro, tende a piorar com as novas regras do Ministério da
Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a chamada
RDC-07, institui padrões mínimos para o funcionamento das UTIs, visando à
redução de riscos aos pacientes, visitantes, aos profissionais e ao
meio ambiente, incluindo o atendimento de alta qualidade ao doente
crítico por uma equipe qualificada.
Entre as medidas, passa a ser
obrigatório que o responsável técnico (chefe ou coordenador médico)
deve ter título de especialista em Medicina Intensiva para responder por
UTI Adulto; habilitação em Medicina Intensiva Pediátrica, para
responder por UTI Pediátrica; título de especialista em Pediatria com
área de atuação em Neonatologia, para responder por UTI Neonatal.
As
chefias de enfermagem e de fisioterapia também devem ser especialistas
em terapia intensiva ou em outra especialidade relacionada à assistência
ao paciente grave, específica para a modalidade de atuação (adulto,
pediátrica ou neonatal). "As medidas evitarão casos como o do Paraná (a
médica acusada de matar os pacientes internados nas unidades) e vão
fortalecer, inclusive, as centrais de regulação que terão gerencia mais
profissional", afirma ele.
O prefeito de Fortaleza, Roberto
Cláudio, reconhece que o problema é grave e adianta que a rede pública
elabora diagnóstico da situação. Ele anuncia que, a partir de um
planejamento a ser elaborado, haverá a expansão da oferta. "Teremos uma
política de gestão com critérios severos para a ocupação dos leitos por
equipe qualificada", diz.
Já o governo do Estado promete que, no
dia 30 deste mês, serão abertos mais 70 leitos no Hospital Regional
Norte, em Sobral. Desses 70, 20 são para adulto, dez pediatria, dez em
neonatologia e 30 intermediários.
Estresse e angústia na fila por leito
Até
conseguir leito nas Unidades de Terapia Intensiva, pacientes correm
risco de morte e enfrentam dias de angústia, medo e estresse foto José
Leomar
A aflição da procura por uma vaga em uma Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) atinge não somente aos pacientes, mas famílias
inteiras. Aguardar na fila não é exceção, mas rotina de muita gente no
Ceará. Que o diga o professor universitário Elialdo Pinheiro de
Albuquerque.
Há 15 dias, experimentou emoções que não deseja para
ninguém. Sua mãe, Maria Pinheiro, de 84 anos, apresentou complicações
no quadro de pneumonia, com problemas no coração, e precisou urgente de
uma UTI da rede pública. Infelizmente, o quadro grave não foi suficiente
para encontrar vaga. Foram dez dias de medo, angústia, sofrimento. "Os
sentimentos se misturam enquanto esperamos. Fui do inferno ao céu quando
o leito surgiu e minha mãe foi encaminhado para o Hospital da Mulher",
conta Elialdo.
Os momentos de estresse também foram enfrentados
pela família do aposentado José Francisco de Souza, de 68 anos. "Nem
quero me lembrar o quanto a gente sofreu com meu pai em estado bem
complicado e tendo que aguardar um leito de UTI", conta a costureira
Ivana Soares Pereira. Felizmente, para eles, o atendimento chegou a
tempo. Muitos morrem na fila.
Casos como o do idoso de 72 anos
que veio a óbito, no Frotinha da Parangaba, no ano passado, devido à
complicação causada por uma bactéria. Segundo a direção do hospital, foi
solicitada urgência de internação em uma UTI, por causa do agravamento
do quadro clínico, porém, com a demora em abrir a vaga, o paciente veio a
óbito.
Em 2003, uma crise gerada pela falta de leitos de UTI
provocou, em menos de duas semanas, a morte de 16 pessoas e outras 11
vieram a óbito no intervalo de um mês. O caso se transformou em
escândalo nacional, sendo objeto de auditoria do Ministério da Saúde.
Para
o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, José Maria Ponte, a
situação crítica atinge toda a saúde no Brasil. Ele integra juntamente
com outros médicos no País um movimento nacional em defesa do setor.
Entre outras medidas, eles querem a aprovação de um projeto de
iniciativa popular que destina 10% da receita bruta federal para a área
da saúde. "É preciso aumentar o financiamento aliado a mais concursos",
frisa.
Ceará está abaixo do índice do MS
Segundo
estudo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), o Ceará
está abaixo do índice recomendado pelo Ministério da Saúde para
cobertura da população, que é de um a três leitos para cada grupo de mil
habitantes. O índice cearense é de 0,8. São 775 unidades de terapia
intensiva em todo o Estado, segundo dados da Secretaria de Saúde do
Estado (Sesa).
Os dados colocam o Ceará em sétimo lugar no Nordeste e 19º no Brasil na relação população versus número de leitos.
Fortaleza
possui, de acordo com dados da Sesa, 630, incluindo públicos e privados
conveniados ou não e, ainda Quixadá, município da macrorregião e que
entra com mais oito unidades. Ainda assim, a conta entre demanda e
oferta não fecha.
O déficit no serviço afeta, principalmente, os
leitos adultos, segundo os parâmetros de cobertura do Ministério da
Saúde (MS), que é de um a três leitos para cada grupo de mil habitantes.
Fortaleza necessita de mais 21 unidades para alcançar o mínimo
indicado. A UTI pediátrica também é deficitária. Seriam preciso mais 16
para chegar ao menor índice.
No geral no Estado, aponta a
pesquisa da Amib, seriam necessários, entre 845 e 2.113 leitos de UTI,
representando 4% a 10% do total de leitos hospitalares do Estado.
Segundo
os critérios, Na Capital, os leitos de UTI são regulados pela Crrifor.
Já os leitos de UTI do Interior obedecem à lista da Cresus. A prioridade
para os casos mais graves com chance de reversão no quadro.
Fonte:Diário do Nordeste
LÊDA GONÇALVESREPÓRTER
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