Fatos
escabrosos sobre o caos da saúde pública brasileira não deveriam chocar
a mais ninguém devido à repetição diária e generalizada. Mesmo com
tantas ocorrências, alguns, chocam, não pelo fato em si, mas pelo tempo
de duração. Aconteceu
recentemente em Sorocaba, no interior de São Paulo, um daqueles casos
que assustam e mexem com a sensibilidade de qualquer pessoa. Rosmari
Aparecida Rosa, de 53 anos, retirou um pedaço de faca do corpo, após 37
anos de um sofrimento insuportável.
Destaca-se,
nesse episódio, o fato de uma radiografia simples ser de rápida
solução, mas nenhum médico, nenhum hospital, nenhum envolvido, seja
público ou particular, tomou essa iniciativa antes. Essa mulher deve ter
passado por diversos médicos, postos e hospitais várias vezes.
Outro
ponto que não se ouviu falar é se as secretarias municipal ou estadual
da saúde deram início a algum procedimento administrativo, para
averiguar por quais órgãos públicos, com vista à apuração de
responsabilidade e a respectiva punição. Não resta nenhuma dúvida que
houve negligência e imperícia. Por mais primários que sejam os
atendimentos, devem ter registros documentados de suas passagens.
Repito,
caso ela tenha sido atendida por órgãos públicos, o que é muito
provável, devido à duração do problema, já que, se ela tivesse melhores
condições financeiras teria recorrido à hospitais particulares que, por
mais simples que fossem, já teriam realizado radiografias, alguma
tomografia e até ressonância magnética.
Mas
esta seria apenas a primeira fase de uma administração pública, que
tivesse um mínimo de seriedade perante seus cidadãos. Por iniciativa
própria, a segunda etapa seria indenizá-la pelo flagelo que passou por
tanto tempo, em razão única e exclusivamente de descaso. À parte a
dignidade escamoteada pelo padecimento de quase quatro décadas, imagine
quanto essa senhora não deixou de realizar, de produzir e de desfrutar
da vida
Em
última instância, ela deveria requerer aposentadoria, com base num
salário médio hipotético do que receberia durante os 35 anos que poderia
ter contribuído e não o fez porque ficou impossibilitada devido à
ineficiência e omissão estatais.
Nessas
horas, em vez de medidas adequadas, os agentes públicos esmeram-se em
dar explicações do que só a eles convencem. Como o poder público no
Brasil só tem o propósito de se beneficiar do povo e não tomará nenhuma
das medidas sugeridas, a senhora e seus familiares deveriam pleitear
tanto a indenização quanto a sua aposentadoria. Devem procurar um
promotor de justiça para auxiliá-la na promoção das ações cabíveis.
Esse
é daqueles casos de danos irreparáveis. Para esses casos não existe
justiça; pode haver reparações de alguns danos. Essa senhora não pode se
satisfazer só em ter encontrado um "anjo", o doutor Walberto Kushiyama,
que solicitou uma ressonância magnética, elementar, que nenhum outro
profissional fez em 37 anos.
Fonte: Revista Central
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